quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Método BLW - Introdução Alimentar sem Papinha

O chamado Baby-ledWeaning (Desmame Guiado pelo Bebê) consiste em oferecer a comida em pedaços e permite que o bebê se sirva sozinho. Saiba mais sobre essa prática que já tem milhares de mães seguidoras em todo o mundo

Método BLW: Autonomia na hora de comer (Foto: Gabriel Rinaldi/Editora Globo)

A expressão em inglês pode parecer complicada, mas é até provável que você já tenha praticado algo parecido com seu filho ou conheça alguém que o faça, por puro instinto. O método BLW teve o nome criado pela agente de saúde britânica Gill Rapley, autora do livro Baby-led Weaning: Helping Your Baby to Love Good Food (em tradução livre, Desmame Guiado pelo Bebê: Ajudando seu Filho a Amar Boa Comida) e tem ganhado cada vez mais adeptos pelo mundo. A ideia principal é não oferecer um prato diferente aos bebês, mas, sim, deixar que eles se sentem à mesa e participem das refeições familiares já a partir dos 6 meses de vida. Os pais colocam os alimentos cortados ao alcance e eles escolhem quando e como levar os pedaços à boca. “O BLW não é novo – pais do mundo inteiro têm praticado há anos. O que acontece é que agora isso tem nome”, esclarece Rapley.

No Brasil, um indício de que a técnica está cada vez mais conhecida é o aumento do interesse por ela nas redes sociais. O principal grupo sobre o assunto no Facebook ganha, em média, 50 novos membros por dia. Já são mais de 5 mil inscritos – a maioria é de mães.

Adeus, papinha?

A recomendação oficial da Organização Mundial de Saúde é que os pais comecem a oferecer alimentos para complementar a nutrição com leite materno ou fórmula assim que os filhos completarem 6 meses. Os pediatras orientam que essa introdução seja feita com as tradicionais papinhas. “A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher. Deve-se começar de forma pastosa (papas ou purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família”, prega o Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Para Rapley, no entanto, a indicação de recorrer às papinhas é uma prática herdada do tempo em que se acreditava que os bebês precisavam de outros alimentos, além do leite materno, já aos 3 ou 4 meses de idade.

Aos 6 meses, porém, eles já estariam mais preparados para praticar com alimentos que exigem mastigação. E as provas disso seriam as habilidades normalmente conquistadas nessa fase, como se sentar sem apoio, levar objetos à boca com as mãos e demonstrar interesse no que os adultos comem. A não ser, claro, que a criança tenha necessidades de saúde específicas – se nasceu prematura, por exemplo, ou se tem algum atraso no desenvolvimento.

Para a nutróloga Jomara de Araújo, da Associação Brasileira de Nutrologia, a transição do aleitamento exclusivo para a introdução alimentar guiada pelo próprio bebê é um caminho natural. “A ingestão de sólidos deve acompanhar as necessidades orgânicas e habilidades motoras da criança, que pode e deve ter o controle total desse processo. A amamentação é absolutamente dominada pelo bebê, desde os seus primeiros minutos de vida. Portanto, nada mais fisiológico e racional do que seguirmos o mesmo princípio quando, após o sexto mês, iniciamos a oferta de sólidos”, defende.

Como fazer o BLW?

Depois de colocar o bebê sentado, junto à família, na hora das refeições, é importante disponibilizar alimentos apropriados. Pense em porções e formatos que a criança consiga pegar com as mãos e levar sozinha à boca. Cenouras cozidas e cortadas em forma de palitos ou ramos de brócolis, também cozidos, são boas alternativas. O caráter saudável é uma característica que merece destaque.

No início, é esperado que seu filho mais brinque com os alimentos do que coma. E tudo bem! Não se preocupe nem insista. Jamais o obrigue a comer, com prêmios, elogios, promessas ou distrações, muito menos com gritos, castigos ou ameaças. “Dizer a uma criança que ela se alimentou pouco e precisa comer mais é tão absurdo quanto falar que respirou pouco e precisa respirar mais”, compara o pediatra espanhol Carlos González, autor do livro Mi Niño no Come (Meu Filho não Come, em tradução livre, ainda sem edição brasileira).

Ele explica que, por mais que os bebês sejam expostos à comida, muitos levam um tempo até começarem, de fato, a se alimentar e é comum ingerirem quantidades pequenas até os 8 ou 9 meses. Às vezes, até mais tarde.

É preciso tempo

O último mandamento do BLW é justamente o de que não se deve apressar o bebê. Deixe que ele leve o tempo necessário para terminar de comer. Para evitar o estresse, escolha uma hora em que não esteja irritado ou com muita fome. Uma das grandes vantagens do BLW é que ele oferece aos bebês a oportunidade de conhecer diferentes texturas e sabores. A cada refeição, eles vivem experiências novas e desenvolvem a capacidade de diferenciar o que gostam do que não gostam, o que é impossível quando se trata das papinhas, em que os ingredientes se apresentam misturados, dificultando a identificação dos sabores.

Além disso, o método estimula a autonomia desde cedo, já que permite escolher o que, quando e quanto se come. Um estudo publicado pelo British Medical Journal concluiu que bebês que se alimentam sozinhos têm menos risco de se tornarem obesos no futuro, em comparação com os que recebemas papinhas. A explicação? Eles desenvolveriam mais cedo a capacidade de regular o próprio apetite e de identificar o momento em que estão satisfeitos. Sem contar que ganham a chance de praticar a coordenação motora e as habilidades sociais, ao participar das refeições em família.

Outro benefício é que a vida também costuma ficar mais fácil para os pais. “Eles podem comer enquanto o prato está quente, sem precisar dar as colheradas ao bebê primeiro, têm o prazer de ver o filho aprender e se divertir. A introdução de alimentos sólidos se torna menos estressante”, opina Rapley.
 

É seguro?

Em relação à qualidade dos alimentos ingeridos, um dos princípios do BLW é que os pais devem confiar nos filhos. Desde o início, eles saberiam escolher o que precisam. Será? Essa é uma das preocupações de alguns dos críticos do movimento. Na opinião do pediatra Daniel Becker, da Pediatria Integral, do Rio de Janeiro, é responsabilidade dos pais determinar o que a criança vai comer, tanto no conteúdo, como na forma. Se eles disponibilizarem comida caseira e não industrializada, respeitando tanto o apetite quanto a saciedade do filho, e na consistência adequada para a sua maturidade, os riscos de errar serão muito pequenos. “Não sou a favor dos extremos: dar autonomia demais ou de menos pode ser prejudicial ao desenvolvimento. A criança pode e deve comer com as mãos, desenvolvendo uma relação lúdica e prazerosa com a comida, mas o ideal é buscar o bom senso”, diz.

Rapley, no entanto, garante que o apetite dos bebês é confiável e que o corpo deles diz o que precisam. É claro que só conseguirão obter os nutrientes certos se houver uma oferta variada, com itens de cada grupo alimentar – construtores (carnes e outras proteínas), energéticos (arroz, batata e carboidratos em geral) e reguladores (legumes e verduras).

Para a especialista, o excesso de papinhas de frutas, vegetais ou cereais, que são ingeridas com rapidez por conta da consistência, é que resulta em um maior risco de desequilíbrio nutricional. “Isso acontece porque o estômago fica cheio de comida e sobra menos espaço para o leite. É importante permitir que o bebê consuma a quantidade que quiser de leite materno. Nenhum outro alimento é tão completo e tão fácil de digerir”, diz.

Não é perigoso engasgar?

Essa é uma das perguntas mais ouvidas por quem opta pelo BLW. O mais frequente é o chamado gag reflex, um reflexo frequente quando as crianças ainda estão se habituando com os alimentos sólidos. A diferença é que, nesse caso, o bebê não fica com a passagem de ar obstruída. Ele apenas se atrapalha – às vezes, os olhos enchem de lágrimas por alguns instantes –, mas ele mesmo consegue manejar o alimento e desengasgar rapidamente.

Rapley garante que, contanto que o bebê esteja sentado, ereto, e mantenha controle sobre o que entra na sua boca, não existe risco aumentado de engasgarcomo BLW.

Mas, para evitar situações de aperto, é importante que os pais não tentem ajudar a criança a comer, segurando o alimento em sua boca. Se ela não consegue fazer isso sozinha, provavelmente, não está pronta para lidar com aquele determinado item de forma segura. Também é normal que a comida caia no chão, de início, porque a habilidade de levar o alimento ao fundo da boca para engolir se desenvolve depois da capacidade de morder e mastigar.

Mais facilidade e mais sujeira?

Se, por um lado, os pais dispostos a aderir ao BLW terão uma parte da rotina aliviada, já que não precisarão preparar pratos separados para o bebê, nem dar a comida na boca, por outro, terão mais trabalho para limpar o cadeirão e o ambiente onde eles fizerem a refeição. É que a curiosidade dos pequenos pelo alimento não se limita ao toque e à descoberta do sabor. Assim como eles fazem com os brinquedos e outros objetos, também vão atirá-lo ao chão, por exemplo.

Para facilitar, as mães recomendam dois truques. O primeiro é esquecer o prato, pelo menos no começo, quando o objeto desperta na criança tanto interesse quanto os alimentos em si – um dos primeiros impulsos do bebê é virá-lo para olhar o fundo. E lá se vai toda a comida. Limpe bem o cadeirão antes e depois das refeições e disponha o alimento direto na mesinha. A segunda dica é forrar o chão, onde você colocará a cadeira, com um plástico. Assim, fica mais fácil recolher a sujeira. Mas não se preocupe. Seu filho adora imitar vocês e é um observador atento. Antes do que imagina, ele vai aprender direitinho!


Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Bebes/Alimentacao/noticia/2015/06/metodo-blw-introducao-alimentar-sem-papinha.html

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