quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O Parto

O parto é um rito de passagem. É onde a mulher, que gestou e dia a dia se preparou, irá realmente deixar o seu papel de filha para assumir o de mãe.

É um processo importantíssimo para a evolução da mulher como um todo.
E esse ritual, onde a mulher se conecta com o seu eu mais intímo, se encontra, se enfrenta e se liberta, sentindo cada contração, abrindo passagem e se libertanto, a torna muito forte. A empodera. Não apenas em relação ao parto, mas em relação a vida. Confere a mulher mais confiança quando se depara com obstátuclos. É simplesmente transformador. Mais ainda quando essa mulher consegue ter um parto natural.

Tem um trecho do Alexandre Coimbra que gosto muito:

“Meu Deus vivemos numa sociedade onde tudo gira em função de anestesiarmos os nossos problemas e fugir dos nossos problemas. Vivemos numa sociedade dos aplicativos, onde apertamos um botão e está tudo resolvido. E queremos transportar isso pro parto, e resolver tudo com apenas um clique ou resolver tudo apenas de uma forma anestesiada, sem viver intensamente aquele processo. Meu Deus, que cor tem a vida de uma mulher que diz eu não quero sentir nada na hora do meu parto. Temos que ter compaixão com essa mulher, quem foi que desbotou a vida dessa mulher?”

Quando olhamos sob a ótica de que o parto é o nosso maior rito de passagem, pelas horas que leva e pelo que ele significa, não colocamos a nossa comodidade ou facilidade em questão, mas deixamos o natural entrar em ação, observando e apreciando a beleza que o parto tem. É totalmente transformador e fisiológico.

Mas falando tecnicamente, como acontece o parto?

O início do trabalho de parto é desencadeado pelo amadurecimento de alguns órgãos/sistemas:

A pele
O sistema imunológico
O sistema neuro-muscular
E o principal, o sistema respistarório

Fisiologicamente, assim que ocorre a maturidade pulmonar, os pneumocitos tipo II, perdem uma camada que recobre suas células, em forma de tensão superficial. Com isso, sufactante é liberado e reconhecido pelo organismo materno, que entende que o bebê está pronto para nascer, dando início aos processos hormonais que iniciam e fazem parte do trabalho de parto.

A contagem de semanas que fazemos acerca da idade gestacional é apenas uma linha guia para saber em qual fase a gestante está. A espécie humana tem uma grande variação em maturidade, que pode chegar até 5 semanas. Ou seja, um bebê com 40 semanas não necessariamente está maduro, se o seu tempo é de 42 semanas, por exemplo.

Não há como prever a maturidade. Costumo dizer que um bebe de termo, que nasceu sem a mãe entrar em trabalho de parto é um bebe imaturo, justamente por não ter tido o tempo natural de amadurecimento dos seus sistemas.

Uma mulher que entra em trabalho de parto naturalmente a termo, é porque seu bebê está pronto para nascer.

Agora falando sobre as fases do trabalho de parto (TP), existem 4 fases:

1º Os pródromos

2º Fase latente

3º Fase ativa

4º Expulsiva

Os pródromos

É caracterizado por contrações aleatórias, sem ritmo e com intensidade variada.

Ou seja, a contração vem em 10 minutos, depois em 30 minutos, em seguida em 15, sem padrão, hora dolorida, hora média ou fraca.

O pródromo é uma espécie de aviso do trabalho de parto, é o momento onde a pressão da contração faz com que a cabeça do bebe pressione o colo, afinando e preparando este para começar a dilatar.

Nessa fase, a gestante deve avisar a equipe que está prodromando.

É uma fase para relaxamento, para reservar energias, tomar muito líquido, se alimentar bem e dormir, para que haja reserva de energia para quando houver o trabalho de parto.

A fase latente

Nessa fase, os hormônios estão sendo produzidos de forma contínua.

As contrações são ordenadas e com a mesma intensidade moderada.

Quando chega a fase ativa a mulher já sabe que o parto irá acontecer naquele dia ou em breve.

A intensidade moderada das contrações começa a incomodar.

É hora de chamar a doula! Ela quem dará todo suporte físico e emocional, além de aplicar métodos não farmacológicos para alívio da dor, como massagem, compressa e cuidar do ambiente, para que esteja aconchegante e acolhedor.

Quando a fase ativa vai se intensificando, os hormônios aumentam a produção e o primeiro hormônio que era a prostaglandina vai mudando e dando espaço à ocitocina, o hormônio do amor, que potencializa o efeito das contrações. Aqui, vamos caminhando à fase ativa.

A fase ativa

As contrações são ritmadas – 3 em 3 minutos – com maior frequência e intensidade forte.

A mulher percebe realmente que o seu bebê irá nascer.

Ela fala que sente dor, seu comportamento muda, ela fica mais reclusa, já não fala com a mesma frequência, não tem fome ou não consegue comer. Pede para uma outra pessoa falar por ela, o parceiro(a) ou a doula.

Além das massagens, posições e ambiente preparado para o alívio da dor, a parturiente pode entrar no chuveiro ou banheira, o que ajuda a relaxar e minimizar a sensação.

Aqui entra em cena a equipe de parteiras(os) e/ou obstetras, chamados pela doula.

Se o parto é domiciliar, a equipe irá para a casa da parturiente. Se o parto é em hospitalar com equipe de plantão, é hora de ir para o hospital fazer uma avaliação.

Se o parto é hospitalar com equipe particular, uma obstetriz irá até a casa da parturiente avaliar, para que a parturiente não vá muito cedo ou com dilatação total.

A mulher está em fase ativa quando a dilatação é maior do que 5cm.

Entre 7cm e 10cm é onde ocorre a partolândia, não é um termo científico, é como as mulheres chamam essa fase. Há uma mudança no comportamento. Uma conexão interior poderosa.

Ocorrem as vocalizações, uma expressão, libertação.

E com o avanço dessa fase até alcançar os 10cm de dilatação, entramos na fase expulsiva.

O Expulsivo
Após a dilatação total, o bebê começa a descer.

As contrações continuam, mas mudam o padrão.

A sensação é uma mescla de alívio, pressão do bebê descendo e vontade de fazer força.

A concentração da mulher se volta totalmente para o canal de parto.

As vocalizações mudam o padrão de som, é algo interno, é o expulsivo.

É nessa fase que chamamos o pediatra neonatal, que irá assistir a chegada do bebê.

O parto não termina quando o bebê nasce, mas sim após 1h do nascimento da placenta, que é tido como um período de observação pós parto.

Ainda há concentração e contração, e assim que a placenta vem, o parto é concluído.

O tempo que leva o parto natural

Cada mulher é um indivíduo único, com as suas particularidades, experiências, história e fisiologia, então existe muita variação.

Mas em geral posso dizer que:

Os pródromos podem levar vários dias;
A fase latente até 24h;
A fase ativa até 12h;
E a expulsiva até 3h.

Claro que há casos onde o parto leva 3h do início ao fim e outros que podem chegar a 3 dias. Se a mãe e o bebê estão bem e a evolução é boa, então o parto segue tranquilamente.

Há 2 grandes parâmetros para acompanharmos o bebê:

Monitorização

Intermitente: ouvindo o bebê em intervalos definidos.

Cardiotocografia: que pode ser utilizado em intervalos definidos, em um momento especifíco ou de forma contínua.

Partograma

Grafico de evolução das fases de parto.

É através da frequência cardíaca que identificamos que o bebê está com boa oxigenação.

Sobre a bolsa

A bolsa pode romper em qualquer momento, em qualquer uma das fases de trabalho de parto. Pode inclusive romper fora de trabalho de parto, antes dos pródromos ou o bebê nascer com a bolsa íntegra.

O rompimento da bolsa não caracteriza nenhum estágio do parto, mas por outro lado ajuda a ter mais informações sobre o bebê, pela avaliação da cor do líquido.

Quando o rompimento ocorre, o bebê encaixa mais baixo, forçando o colo e acelerando o trabalho de parto.

A dor

É importante entender que a dor do parto não está ligada à sofrimento.

Muito pelo contrário. Está ligada ao amor. É apenas uma sensação. Se entregar às contrações, aceitando-as de braços abertos, como um abraço, é deixar o corpo trabalhar e se abrir espaço para a chegada do seu bebê.

Não é mais uma contração e sim menos uma, que te deixa mais próxima de conhecer aquele ser tão amado.

O parto é um grande rito de passagem.

É a nossa expressão mais humana!

Por:
Braulio Zorzella

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